Como a taxa Selic influência na modalidade de consórcio
- *Por Thiago Savian
- 04/12/2025
- Consórcio
Em um momento em que a taxa Selic alcança os 15% ao ano — o maior patamar desde 2016 — entender seus efeitos sobre o crédito e consumo se torna ainda mais urgente. E embora o consórcio, por definição, não envolva juros, ele não está imune às oscilações dessa taxa. Pelo contrário: a Selic redefine o apelo e a lógica do consórcio, influenciando diretamente o comportamento dos consumidores e o mercado como um todo. Quando a Selic sobe, os financiamentos encarecem, o crédito se retrai e a economia tende a esfriar. Quando cai, o consumo é estimulado por meio do crédito mais barato. E onde o consórcio entra nisso?
O consórcio não tem juros, apenas a taxa de administração, que já é bem mais interessante comparando com o financiamento, e nessa alta taxa só tende a ficar mais competitivo. Em momentos como o atual, com Selic a 15%, os bancos e financeiras aumentam os juros dos financiamentos. Isso torna a compra a prazo menos atrativa, especialmente para imóveis e automóveis. Nesse cenário, o consórcio se solidifica como uma alternativa viável e bem mais econômica.
É o que mostram os números: segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), o setor cresceu 13% em 2024, com mais de 10,8 milhões de participantes ativos e esse aumento foi impulsionado, justamente, pela busca de alternativas ao crédito tradicional, cujos encargos se tornaram proibitivos para boa parte da população.
Além disso, a alta da Selic costuma vir acompanhada de maior cautela financeira. Os consumidores passam a planejar melhor suas compras, evitando dívidas com juros altos e considerando modalidades como o consórcio, que estimula disciplina, organização e visão de médio a longo prazo.
Porém, o impacto da Selic não para por aí. Os recursos acumulados pelos grupos de consórcio são aplicados no mercado financeiro enquanto não são utilizados — e quanto mais alta a Selic, maior a rentabilidade desses valores. Esse rendimento é revertido parcialmente em benefícios para o grupo, como sorteios, manutenção do poder de compra e até antecipações de contemplações.
Mas também é verdade que, quando a Selic está baixa, o financiamento tradicional volta a ser competitivo. Em cenários com juros abaixo de dois dígitos, consumidores mais imediatistas tendem a preferir o crédito com acesso rápido ao bem, mesmo que com custos embutidos. Já o consórcio, por exigir paciência e planejamento, perde parte de seu apelo.
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Outro efeito pouco discutido está no comportamento dos investidores. Com a renda fixa pagando menos em momentos de juros baixos, o consórcio começa a ser visto como uma alternativa de diversificação patrimonial. Comprar uma cota com potencial de valorização ou revenda futura, ou mesmo adquirir imóveis à vista com descontos, se torna uma estratégia atrativa. Em compensação, quando está alta — como agora — muitos preferem deixar o dinheiro em aplicações tradicionais com boa rentabilidade, adiando decisões de consumo ou adesão ao consórcio.
Em resumo, a Selic não altera diretamente as regras do consórcio, mas influência sua atratividade, suas vantagens comparativas e seu impacto no planejamento financeiro das famílias. Em tempos de juros elevados, como o atual, o consórcio ganha protagonismo como uma solução inteligente para quem quer fugir dos juros do financiamento e manter o controle do próprio orçamento. É um modelo que, com ou sem Selic alta, exige disciplina — mas entrega segurança e previsibilidade, ativos cada vez mais valiosos em tempos de incerteza econômica.
*Thiago Savian é Diretor Comercial da Unifisa, empresa brasileira de soluções financeiras, especializada em consórcio.
