Amapá volta a ter mortes de travestis e trans após 3 anos sem novos registros, aponta dossiê

Estudo de associação contabilizou dois óbitos em 2021. Neste sábado (29), é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans.


Em 2021, o Amapá voltou a registrar mortes de pessoas travestis e transexuais após 3 anos. A informação consta num dossiê e torna a colocar a violência contra essa população em discussão às vésperas do Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado neste sábado (29).

Conforme o relatório, publicado na sexta-feira (28) pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Amapá registrou duas mortes de travestis ou trans no ano passado. Os registros anteriores eram de 2017 (um óbito).

 

 

Os números não são oficiais porque não existe um levantamento realizado pelo Governo Federal. A Antra faz as pesquisas a partir de uma rede nacional analisando relatos, reportagens, órgãos públicos e entidades não-governamentais.

Em 2021, os estados que mais tiveram registros foram São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco.

O relatório não qualificou se os casos que ocorreram no Amapá foram transfeminicídio, mas as vítimas eram duas mulheres e ambas foram mortas em abril de 2021: Marcinha Vaz, conhecida como “Maquita”, de 30 anos; e Monalisa Leide, de 41 anos. Os casos ocorreram em Macapá.

Rafaela Esteffans, mulher trans, cantora e presidenta da ONG Pró-Vida LGBT-AP, destaca que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans – segundo a ONG Transgender Europe – e se questiona por isso, principalmente quando os casos de violência ocorrem por preconceitos.

“Por que a violência é tão grande com essa população? Pelo fato de ainda existir o machismo estrutural que a sociedade traz consigo. A maioria dos assassinatos de transfobia é realizada por homens. [...] Eles não respeitam os nossos corpos, a nossa existência. Não respeitando, eles cometem essa transfobia. É muito triste ver essa situação. No Amapá nós tivemos duas mortes, parece pouco, mas é algo que não deveria acontecer em nenhum lugar”, opinou.

Integrante da Coordenadoria Municipal da Diversidade de Macapá, Rafaela pontua que políticas públicas voltadas para educação e emprego podem dar visibilidade para as pessoas trans. Em 2021, o órgão deu início a uma parceria com o projeto Oportunizar, da Rede Trans Brasil, em busca de vagas de trabalho e cursos profissionalizantes para essa população.

“Acredito que dessa forma a gente consegue não só fazer com que as mortes diminuam, e fazer com que as pessoas possam nos respeitar. Não precisam nos aceitar, apenas que nos respeitem nosso gênero, nossa orientação sexual. Respeitem os corpos das pessoas trans porque fazemos parte dessa sociedade e queremos viver com essa sociedade”, finalizou.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Ausência de dados oficiais

Segundo a presidente da Antra, Bruna Benevides, a ausência de dados oficiais da violência contra a população trans pode significar um número ainda maior de vítimas que o contabilizado em 2021 e nos anos anteriores. Em 2020, foram 175, um recorde. "Por isso não é possível dizer que, na realidade, a violência está diminuindo", diz.

Atlas da Violência 2021 trouxe dados relativos à quantidade de pessoas LGBTQIA+ que passaram pelo sistema de saúde em 2019, sem especificar, por insuficiência de informações, a motivação das violências sofridas por elas.

O levantamento é feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério da Economia, e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), ligado ao governo do Espírito Santo.

A base do Atlas são os registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. "É assustador pensar que 98,8% dos registros (do Sinan) não possuem a informação sobre a identidade de gênero das pessoas", aponta o dossiê da Antra.

 

Fonte: G1-AP / Foto: Ilustrativa 

Publicidade
Ads Amapá Digital



O que achou desta notícia?


Cursos Básicos para Concursos