Amapá Digital | Quinta-Feira, 18 de dezembro de 2025.
Instituto Desiderata, uma organização da sociedade de interesse público, alerta para urgência de políticas públicas mais equitativas. De acordo com análise do Panorama da Oncologia Pediátrica, a Região Norte conta com apenas três hospitais habilitados em oncologia pediátrica, o que representa 0,5 serviço por cada milhão de crianças/adolescentes, oferta quatro vezes menor que a observada na Região Sul.
O acesso desigual ao tratamento do câncer infantojuvenil no Brasil ainda é um desafio crítico. Segundo o Panorama da Oncologia Pediátrica, estudo realizado pelo Instituto Desiderata, a distribuição de hospitais habilitados para atendimento especializado varia drasticamente entre as regiões do país, comprometendo o diagnóstico precoce, a qualidade do cuidado e as chances de cura de milhares de crianças e adolescentes.
Atualmente, o Brasil conta com 77 hospitais habilitados para o tratamento de câncer infantojuvenil e 66 para hematologia. No entanto, essa infraestrutura está longe de ser equitativamente distribuída. "Os dados revelam desigualdades intensas entre as regiões, o que pode determinar se uma criança terá acesso oportuno e qualificado ao tratamento ou não", afirma Carolina Motta, gerente de Oncologia do Instituto Desiderata.
Realidade por região
Na Região Norte, onde vivem mais de 6,5 milhões de crianças e adolescentes, há apenas três hospitais habilitados em oncologia pediátrica, o que representa 0,5 serviço por milhão de habitantes infantojuvenis. A taxa de mortalidade por câncer nessa faixa etária foi alarmante: 47,5 mortes por milhão, entre 2016 e 2022.
O Nordeste apresenta uma cobertura melhor, com 16 hospitais habilitados, mas ainda distante do ideal, considerando sua população infantojuvenil de quase 17 milhões. A taxa de mortalidade foi de 44,5 por milhão, no mesmo período. A região tem cobertura de Atenção Primária à Saúde próxima de 80%, o que não tem sido suficiente para reverter os desfechos negativos.
O Centro-Oeste conta com cinco serviços habilitados, taxa de mortalidade de 43,6 por milhão, e uma cobertura de Atenção Primária de 68,6%. No Sul, são 17 hospitais habilitados, e o Sudeste com 36 serviços habilitados para o tratamento do câncer infantojuvenil tem a maior concentração do país, com uma taxa de mortalidade menor: 39,4 por milhão.
O caso mais crítico é o do Acre, sem nenhum hospital habilitado em oncologia pediátrica. Lá, a taxa de mortalidade por câncer infantojuvenil chega a 54,7 por milhão, apesar de uma cobertura de Atenção Primária de 69,1%.
Hospitais habilitados por milhão de crianças e adolescentes:
Sudeste: 1,7 serviços/milhão Sul: 2,3 serviços/milhão Nordeste: 1 serviço/milhão Centro-Oeste: 1,1 serviço/milhão Norte: 0,5 serviço/milhão
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma proporção mínima de serviços especializados por milhão de crianças e adolescentes, e o Brasil ainda não alcançou esse parâmetro em diversas regiões”, reforça Carolina Motta, que complementa: “se o diagnóstico for precoce, as chances de cura podem chegar a 80% das crianças e adolescentes acometidos pela doença”.
Atendimentos fora da rede especializada
Outro ponto preocupante é o volume de pacientes sendo atendidos em hospitais não habilitados em oncologia pediátrica. Entre 2017 e 2021, cerca de 20,4% dos casos em menores de 1 ano foram tratados fora da rede especializada. No Norte e Nordeste, esse número chega a 40,5%. Entre jovens de 15 a 19 anos, 36,7% foram tratados fora dos centros habilitados; no Centro-Oeste, mais da metade dos adolescentes (50,6%) passou por esse tipo de atendimento em centros não habilitados.
“Quando o tratamento ocorre fora de unidades habilitadas, aumentam os riscos de falhas no diagnóstico, atrasos nos protocolos terapêuticos e piora nos prognósticos. O sistema precisa garantir equidade e qualidade em todo o território nacional”, alerta Motta.
7º Fórum de Oncologia Pediátrica em Brasília
Para discutir essas desigualdades, Instituto Desiderata promove o 7º Fórum de Oncologia Pediátrica (FOP), nos dias 24 e 25 de setembro de 2025. Evento gratuito será na sede da OPAS, em Brasília, e pode também ser acompanhado online.
Pela primeira vez realizado de forma presencial na capital federal, o FOP reunirá gestores públicos, profissionais de saúde, pesquisadores e representantes da sociedade civil para debater soluções e estratégias que garantam equidade no cuidado e no tratamento de crianças e adolescentes com câncer em todo o país.
Com o tema central “Fortalecimento da Rede de Atenção ao Câncer Infantojuvenil nos estados brasileiros”, o Fórum busca impulsionar a construção de uma rede articulada entre estados e municípios, que assegure um cuidado mais ágil, efetivo e humanizado. A proposta é enfrentar as desigualdades sociais, étnico-raciais e regionais que ainda impactam o acesso ao diagnóstico e ao tratamento no Brasil.
“Discutir câncer infantojuvenil é discutir o direito à vida, ao cuidado digno e à justiça social. O FOP é um espaço de articulação para transformar realidades e ampliar as chances de cura de milhares de crianças e adolescentes”, afirma Carolina Motta, gerente de oncologia do Instituto Desiderata.
No dia 24 de setembro, o Fórum promoverá uma série de mesas de debate, palestras e painéis temáticos, com foco na qualificação da atenção oncológica infantojuvenil. Um dos destaques será a discussão sobre diagnóstico precoce, fundamental para o enfrentamento da doença no país. A programação conta ainda com a participação da Liga Acadêmica de Pediatria da Universidade de Brasília (UnB), que apresentará contribuições acadêmicas para a formação de profissionais da área.
No dia 25 de setembro, será realizada uma oficina técnica fechada, reunindo especialistas, profissionais da saúde e representantes de secretarias estaduais. O objetivo é alinhar diretrizes e construir propostas concretas para fortalecer a Rede de Atenção à Saúde do Câncer Infantojuvenil nos estados brasileiros. O evento é gratuito e para saber mais detalhes da programação do Fórum, o link é http://foprio.org.br.
Uma plataforma de incidência política e transformação
Criado em 2011, o Fórum de Oncologia Pediátrica se consolidou como uma das principais plataformas de debate e formulação de políticas públicas voltadas ao câncer infantojuvenil no Brasil. Ao final de cada edição, as discussões são sistematizadas na Carta de Recomendações do FOP, um documento técnico que propõe ações concretas para o fortalecimento da rede de cuidado, encaminhado a órgãos públicos, universidades e instituições parceiras.
A 7ª edição do FOP conta com a participação de instituições de referência como o Instituto Nacional de Câncer (INCA), Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), Confederação Nacional de Instituições de Apoio à Criança com Câncer (CONIACC), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde. O evento também tem parceria institucional do St. Jude Children’s Research Hospital e financiamento do programa My Child Matters.
Para mais informações e inscrições gratuitas, acesse https://foprio.org.br.
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