Diplomacia

Tratado global contra poluição plástica: indústria química brasileira reforça posição técnica do país em nova rodada de negociações da ONU


Comitiva brasileira sugere proposta técnica viável para países em desenvolvimento, com foco em metas de reciclagem, circularidade de materiais, inclusão social e gestão adequada de substâncias químicas.


A indústria química brasileira iniciou, nesta terça-feira (5), sua participação na segunda parte da quinta sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5.2) da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece até 14 de agosto, no Palácio das Nações, em Genebra. O objetivo é avançar na construção de um tratado global juridicamente vinculativo para eliminar a poluição plástica, inclusive no ambiente marinho. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), acreditada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), integra a delegação oficial brasileira ao lado do Itamaraty e defenderá um acordo global equilibrado, baseado em evidências científicas, economia circular, transição justa, inclusão social, neutralidade tecnológica e mecanismos financeiros adequados aos países em desenvolvimento.

A entidade sustenta que o tratado deve estimular investimentos em coleta, triagem e reciclagem, prevendo metas nacionais progressivas de reciclagem e o uso de conteúdo reciclado nas embalagens, além de fortalecer instrumentos como Responsabilidade Estendida do Produtor (REP), neutralidade tecnológica e a inclusão do setor informal na cadeia de valor. “O Brasil pode exercer um papel de protagonismo internacional em defesa de uma proposta equilibrada, fundamentada na ciência e na circularidade. O combate à poluição precisa gerar desenvolvimento sustentável, inclusão e inovação, e não criar barreiras para quem produz, emprega e investe”, afirma o presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, que integra a comitiva brasileira em Genebra.

A Abiquim também destaca a importância de o texto final considerar as diferentes realidades regionais, adotando instrumentos como a Árvore de Decisão. Essa metodologia avalia, de forma sistemática, aspectos como reciclabilidade, design, risco de vazamento e impacto ambiental, permitindo decisões mais precisas.

No âmbito da gestão de substâncias químicas presentes nos plásticos (aditivos), a entidade avalia que o INC não é o foro adequado para tratar do tema, dada a complexidade técnica envolvida. “Esse debate deve continuar no âmbito do Global Framework on Chemicals. O Brasil já dispõe da Lei nº 15.022/2024, que instituiu o Inventário Nacional de Substâncias Químicas e define critérios rigorosos de avaliação de risco à saúde humana e ao meio ambiente, garantindo que qualquer controle seja proporcional ao risco enfrentado localmente”, explica a gerente de Regulatório e Sustentabilidade da Abiquim, Camila Hubner Barcellos Devincentis.

Critérios técnicos

Na agenda de circularidade, a entidade reforça que políticas públicas coerentes com a realidade brasileira são indispensáveis para fomentar a reutilização, a reciclabilidade e o uso de conteúdo reciclado. “O combate à poluição plástica só será efetivo quando consolidarmos uma economia circular que transforme resíduos em recursos. O incentivo à reciclagem, ao conteúdo reciclado e à adoção de novas tecnologias é um caminho indispensável para um futuro sustentável”, pontua a coordenadora de Circularidade da Abiquim, Carolina Ponce de Leon.

A Abiquim reforça que qualquer proposta de limitação à produção ou banimento de produtos plásticos deve se basear em critérios técnico-científicos e análise de impacto socioeconômico. “O sucesso desse acordo dependerá da construção de soluções pragmáticas, que contem com a colaboração entre governos, setor empresarial e sociedade civil. Nossa contribuição é técnica, responsável e comprometida com a construção de um tratado global eficaz, equilibrado e alinhado às particularidades dos países em desenvolvimento”, conclui André Passos Cordeiro.

A indústria química brasileira é reconhecida internacionalmente pelo seu compromisso com a saúde, a segurança e o meio ambiente, com destaque para sua atuação no programa global Responsible Care — traduzido no Brasil como Atuação Responsável — do qual participam todas as empresas associadas à Abiquim. Esse padrão de excelência produtiva representa uma vantagem competitiva relevante para o país nas negociações internacionais, ao permitir a defesa de regras e parâmetros globais inspirados em práticas já adotadas no Brasil, como o licenciamento ambiental. Reforçando esse posicionamento, a Abiquim lançou, no fim de 2024, a iniciativa "Vamos Falar Sobre Plástico", uma plataforma voltada à promoção de um debate técnico e acessível sobre o tema, com propostas metodológicas fundamentadas na ciência e em evidências.

Veja alguns trabalhos

 



Deixe seu Comentário

 

VOLTAR A PÁGINA PRINCIPAL