Amapá Digital | Domingo, 17 de agosto de 2025.
Uma formulação de tafenoquina dispersível e adequada para crianças pode reduzir as recaídas e ajudar a quebrar o ciclo de transmissão da doença.
O Brasil deu um passo importante em direção à eliminação da malária ao incorporar formulação de tafenoquina pediátrica ao Sistema Único de Saúde (SUS). Este novo comprimido solúvel, aprovado para crianças a partir de 2 anos de idade, é tomado em combinação com cloroquina para a cura radical da malária por P. vivax. A adoção deste tratamento para crianças e adolescentes dá continuidade à decisão de junho de 2023 de disponibilizar a tafenoquina para adultos. Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde indicam que, em 2023, 139.884 casos de malária foram registrados na Amazônia brasileira, com 82,5% destes atribuídos ao P. vivax. Dos casos totais, 44% ocorreram em crianças e adolescentes até 19 anos. O impacto é enorme:uma infecção por malária P. vivax sem o tratamento para a fase hepática da doença (cura radical), aumenta o risco de repetidas recaídas. Cada recaída provoca um novo episódio de doença, o que pode causar anemia em crianças e adolescentes, afetando seu crescimento, desenvolvimento e frequência escolar.
O tratamento com tafenoquina, administrado em dose única para combater a fase hepática da malária por P. vivax, representa um avanço significativo em comparação com a primaquina, que requer o tratamento medicamentoso por 7 dias. Como muitos pacientes têm dificuldade em completar o ciclo de tratamento, não recebem a dose adequada de primaquina e, consequentemente, ficam propensos a recaídas. Além disso, atualmente não existem formulações de primaquina com garantia de qualidade e adequadas para crianças, o que significa que elas correm o risco de receber doses insuficientes ou excessivas ao usar as formulações destinadas a adultos.
A tafenoquina para adultos e a formulação pediátrica solúvel, foi desenvolvida pela empresa biofarmacêutica global GSK e pela Medicines for Malaria Venture (MMV). A formulação pediátrica foi especificamente projetada para se dissolver rapidamente em água, e a dosagem é ajustada ao peso da criança, facilitando a administração nesta população particularmente vulnerável. Assim como todas as 8-aminoquinolinas, o tratamento em dose única tem o potencial de causar anemia hemolítica em pessoas com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Portanto, o teste de G6PD deve ser realizado antes da prescrição. Segundo Alexander Vargas, Chefe do Programa Brasileiro de Eliminação da Malária, “esta adoção é um passo significativo no tratamento da malária em crianças, um grupo particularmente vulnerável, especialmente nas áreas mais afetadas. É também o resultado de uma parceria de longa data com a MMV, que tem sido importante para acelerar nossos esforços para expandir o acesso a novas opções de tratamento para a malária e atingir nossas metas de eliminação.”
Dr. Martin Fitchet, CEO da MMV, enfatiza que “a adoção da tafenoquina pediátrica em dose única pelo Brasil marca um momento transformador na luta contra a malária recorrente. Esta inovação direcionada às crianças, codesenvolvida pela MMV e GSK, nos aproxima de um mundo onde nenhuma criança sofra da malária por P. vivax. Aplaudimos a liderança do Brasil em priorizar a saúde de seus cidadãos mais jovens e por estabelecer um exemplo global.”
Um desafio persistente: malária entre crianças indígenas
Na Amazônia brasileira, a malária afeta desproporcionalmente as comunidades indígenas – e especialmente suas crianças. Em 2024, mais de 33.000 casos de malária foram notificados apenas no Território Indígena Yanomami, sendo que 44% ocorreram em crianças com menos de 10 anos de idade.
Entre as crianças indígenas, o risco de recaída causado pelo P. vivax é particularmente preocupante. Infecções repetidas não apenas aumentam a probabilidade de complicações, mas também ajudam a sustentar a transmissão da malária em comunidades já vulneráveis.
A administração de medicamentos em dose única é especialmente importante em áreas remotas, onde seguir regimes de tratamento mais longos pode ser um desafio. Para crianças em comunidades indígenas, a tafenoquina aumenta as chances de completar um tratamento eficaz, ajudando a prevenir recaídas e a interromper o ciclo de transmissão da malária.
Baseando-se no sucesso da introdução da tafenoquina para adultos no Brasil
Desde que o Brasil se tornou o primeiro país endêmico de malária a adotar a tafenoquina para adultos no SUS em 2023, os resultados têm sido promissores. A implementação do novo tratamento com o teste de G6PD começou em junho de 2024 e, em abril de 2025, já cobria 49 municípios de seis estados e nove Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Mais de 7.000 adultos já foram tratados, e cerca de 3.000 profissionais de saúde foram treinados para sua administração.
O Brasil registrou uma queda de 26,8% nos casos de malária no primeiro trimestre de 2025, sinalizando que estratégias inovadoras de tratamento, vigilância e prevenção podem estar desempenhando um papel nisso. e uma redução de 27% nas mortes, sinalizando que estratégias terapêuticas, de vigilância e de prevenção inovadoras podem ter desempenhado um papel nisso. Rondônia, um dos primeiros estados a introduzir o tratamento com tafenoquina, registrou uma diminuição de 47% nos casos de malária durante os primeiros quatro meses de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. 95% de todos os casos de malária em Rondônia durante esse período foram por P.vivax.
A incorporação da tafenoquina pediátrica ao SUS pode expandir ainda mais esses ganhos. Além de melhorar a saúde e o bem-estar das crianças, o novo medicamento pode aliviar a carga sobre o sistema público de saúde, reduzindo a necessidade de repetidos atendimentos. Ao prevenir recaídas, diminuem a pressão sobre os serviços locais e os custos associados e aumentam as chances do Brasil avançar na meta de eliminar a malária até 2035.
Sobre a Medicines for Malaria Venture (MMV)
A MMV é uma organização sem fins lucrativos sediada na Suíça que atua através de um modelo de parceria para o desenvolvimento de produtos, visando disponibilizar um portfólio de medicamentos acessíveis com o poder de tratar, prevenir e eliminar a malária. Criada em 1999, da necessidade de maior equidade em saúde, a MMV preenche lacunas críticas em pesquisa, desenvolvimento e acesso – trabalhando de ponta a ponta para expandir o uso de antimaláricos existentes e inovar novos compostos para proteger a saúde pública. Isso começa com mulheres e crianças.
E está funcionando. Até 2024, os produtos apoiados pela MMV trataram efetivamente cerca de 711 milhões de pessoas. Não podemos parar agora.
No entanto, com mais de um quarto de bilhão de casos de malária e 597.000 mortes relatadas em 2023, o progresso em direção à eliminação da doença estagnou. A MMV faz parte de um ecossistema de parceiros determinados a mudar isso. Unindo parceiros dos setores público e privado, somos pioneiros em novas soluções que se alinham às prioridades de saúde locais e globais e promovem o desenvolvimento equitativo de produtos eficazes e acessíveis que trabalham para ajudar a acabar com a malária e promover a saúde para todos.
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