Amapá Digital | Domingo, 17 de agosto de 2025.
Ministério das Comunicações prevê lançamento de estações experimentais ainda em 2025 e implementação em todo o país até a Copa do Mundo de 2026.
A televisão aberta brasileira está prestes a viver sua maior revolução em décadas. Mais do que uma simples evolução técnica, a chegada da TV 3.0 promete transformar radicalmente a experiência diante da tela — com imagem ultra nítida, som de cinema, interatividade em tempo real e novos serviços digitais. O governo federal prepara o decreto que dará o pontapé oficial nessa transição histórica, adotando um dos padrões de transmissão mais modernos do mundo. Mas, em um país onde a TV ainda é ponte essencial para educação, cultura e informação, uma pergunta central se impõe: como garantir que essa transformação seja, de fato, para todos.
O novo padrão prevê transmissões em até 8K, a resolução mais alta do mercado, além de som imersivo, que cria uma experiência sonora tridimensional semelhante ao que se ouve nas salas de cinema. Também haverá mais interatividade, personalização de conteúdo e integração com a internet, o que significa que o espectador poderá acessar informações extras sobre a programação, participar de enquetes em tempo real e até mesmo fazer compras diretamente pela TV.
Na prática, a promessa é oferecer uma experiência semelhante à de plataformas de streaming, mas de forma gratuita e acessível a partir de um simples sinal de antena. Para o público, a mudança representará uma verdadeira ruptura no modo de assistir TV aberta no Brasil. Imagine assistir à novela com legendas personalizadas, acompanhar um jogo de futebol com diferentes ângulos de câmera, contar com recursos de acessibilidade, como audiodescrição em tempo real.
Mas para que tudo isso se concretize de forma democrática, a regulamentação deve ir além da definição de aspectos técnicos, garantindo que essa transformação chegue a todos, incluindo as famílias de baixa renda. É fundamental que a nova tecnologia venha para aproximar, e não ampliar desigualdades no acesso à informação - especialmente em um país onde a TV aberta já cumpre um papel democrático e acessível a todos. Pontos como prazos de transição, subsídios para equipamentos e para que as emissoras se adaptem à nova realidade também devem ser levados em consideração. E como a nova TV digital permitirá maior interação e coleta de informações sobre o público, a proteção dos dados precisa ser uma preocupação central.
A transformação, porém, não depende apenas de políticas públicas. A adoção da TV 3.0 exigirá um esforço conjunto entre governo e emissoras. Além de atender às demandas sociais, o setor de radiodifusão precisará investir pesado em infraestrutura, atualização de estúdios, equipamentos e novos fluxos de produção. Em contrapartida, o modelo abre oportunidades importantes de negócio ao manter a entrega de valor atual e alcance significativo, somada a novas fontes de receita com conteúdos interativos e com publicidade ainda mais segmentada, o que significa anúncios mais relevantes para o público.
Um debate econômico em curso que pode impactar positivamente os fabricantes de televisores, influenciando a criação, por exemplo, de linhas de incentivo para estimular a indústria nacional. É um movimento que também não deixa de ser uma janela de oportunidade para consolidar a audiência da TV aberta no Brasil a partir da melhoria da experiência do espectador.
O eixo central da TV do futuro precisa ser a inclusão. A transição tecnológica é uma oportunidade histórica de fortalecer a TV aberta, garantindo que ela continue sendo uma fonte gratuita e acessível de informação, cultura e entretenimento para milhões de brasileiros. O sucesso dessa nova fase dependerá da capacidade de construirmos uma transição justa, acessível ao bolso das famílias e pensada para todos.
Por Luis Eduardo Magalhães Filho
Acionista e vice-presidente do Conselho de Administração da Rede Bahia (afiliada da TV Globo) e controlador da Avenida Participação, empresa com atuação no segmento de Mídia OOH.
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